Quarenta anos de camisa suada e sonho no peito

sebastiao

Hoje o Camaleão completa 40 anos. E não é pouca coisa. Quarenta anos carregando o nome de Aparecida pelo Brasil, entre derrotas doídas e vitórias inesquecíveis. E eu, que acompanhei essa história quase toda, me peguei pensando: quantas vezes eu fui dormir frustrado com uma eliminação da Aparecidense? E quantas vezes voltei pra casa com o coração leve depois de uma vitória? A conta talvez empate. Mas o amor, esse sempre venceu.

Lembro quando começaram a falar do time nos anos 90. Era um clube ainda tímido, meio desacreditado, mas a gente aqui de Aparecida já sentia um orgulho diferente. Era nosso. Representava a cidade que crescia, que deixava de ser só “periferia de Goiânia” pra virar um lugar com identidade própria. O time virou símbolo disso.

E não foi fácil. Passou por crise, por rebaixamento, por abandono. Teve ano que mal dava vontade de acompanhar. Mas também teve 2021. Ah, 2021! Que ano! Ver o Camaleão levantar o troféu da Série D foi como ver um filho se formar. Eu chorei. E não foi pouco. Porque ali a gente viu o esforço de décadas sendo reconhecido. A gente viu que vale a pena persistir.

Teve também aquela quase subida pra Série B, que escapou por detalhe. Doeu, mas mostrou que o time podia mais. E foi mostrando. Cresceu no Goianão, enfrentou time grande, levou susto e deu susto também. Fez história até contra Botafogo e Fluminense. Pode ter caído, mas não foi sem brigar. O Camaleão nunca foi de se esconder.

Mas se tem um capítulo que ninguém esquece nesses 40 anos, é o jogo contra o Tupi-MG, em 2013, pela Série D. Eu mesmo lembro como se fosse ontem. A Aparecidense estava sendo pressionada nos minutos finais, quase perdendo a vaga. Foi então que o Esquerdinha, nosso massagista, invadiu o campo e salvou em cima da linha um gol certo. Parecia cena de filme. Claro que deu confusão, virou manchete no país inteiro, teve punição e no final, como deveria ser, perdemos a classificação. Mas ali, naquele gesto louco e improvável, estava a alma da Aparecidense: a vontade de vencer, nem que fosse no improviso. Aquele lance virou meme, manchete, mas pra nós ficou como símbolo de uma garra que não se explica.

E se hoje Aparecida é vista com outros olhos, pode ter certeza que a Aparecidense tem parte nisso. O nome da cidade circulou o país não só por ser grande e próspera, mas porque tem um time que soube honrar as cores no campo. Um time que suou a camisa, que lutou, que caiu e levantou. Igual ao povo daqui.

Claro que ainda tem muito a melhorar. A estrutura, o calendário, o apoio da torcida — que às vezes some quando o time mais precisa. Mas a base tá feita. E o que vier agora é construção em cima de alicerce forte.

No fim das contas, o futebol é só um reflexo da vida. A gente perde, ganha, espera, se frustra, se anima de novo. E no meio disso tudo, segue torcendo. Por isso, nesses 40 anos da Aparecidense, eu deixo meu parabéns com um aperto no coração e um sorriso no rosto. Que venham mais 40, mais vitórias, mais títulos… e quem sabe, um dia, o acesso pra Série B, e se é pra sonhar, porque não também a Série A?

Mas independentemente de onde o time chegar, ele já é grande demais pra quem viu tudo acontecer de perto. Feliz aniversário, Camaleão. Aparecida é mais forte porque tem você.

sebastiao

Escrito Por

Aos 65 anos, Sebastião carrega nas mãos a memória de uma cidade inteira. Chegou em Aparecida no fim dos anos 70, quando tudo ainda era barro e promessa. Foi serralheiro por décadas até se aposentar — cada portão, cada grade, um pedaço da sua história. Entre a missa e o noticiário, não se cala: cobra, opina, representa quem construiu Aparecida com suor.

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