Um fim de temporada pra esquecer

sebastiao

Já vi muita coisa nesse campo do Anníbal. Vitória improvável, derrota humilhante, empate sem graça… mas nada me deixa mais abatido do que essa sensação de que quando começa a dar certo, já é tarde demais.

Foi o que aconteceu com a Aparecidense esse ano. O time patinou tanto, levou tanta rasteira, que quando finalmente acertou o passo — com a chegada do Lúcio Flávio — já não dava mais tempo de alcançar o bonde. A verdade é essa: o treinador foi a melhor coisa que nos aconteceu na temporada, mas chegou tarde.

Se teve alguém que deu padrão, organizou o time e fez o pouco render, foi ele. Olha os números: 29 jogos, quase 50% de aproveitamento. Parece pouco pra quem vê de fora, mas pra quem vive o dia a dia do Camaleão, sabe que foi milagre.

Mas agora vem a notícia: ele e a comissão estão de saída. E não é por má vontade. É porque acabou o calendário. O time ficou sem compromisso pro resto do ano. É como se, depois de tanto esforço, tivessem apagado a luz e fechado a porta. Tudo porque a diretoria não soube se preparar.

Aí me vem um sentimento agridoce. Por um lado, fico feliz de ter visto um treinador que entendeu o espírito da cidade, que fez o time brigar mesmo com limitações. Por outro, me revolta ver que, mais uma vez, a Aparecidense termina a temporada menor do que entrou.

A culpa? Não tá no campo. Tá lá em cima. A diretoria falhou. Falhou feio. Não teve planejamento, não teve foco. Quando era hora de renovar elenco, apostaram errado. Quando era hora de investir, recuaram. E quando acertaram — finalmente — já era tarde.

Ano que vem vamos jogar só o Goianão. Nada de Copa do Brasil, nada de Série D. Nenhum campeonato nacional. Isso é castigo pra quem errou, mas recai mesmo é sobre nós, os torcedores. Eu, que vejo o nome da cidade estampado no escudo, fico com a alma apertada. Porque sei o que esse time representa pra Aparecida.

Vejo meninos no Jardim Miramar sonhando em vestir a camisa branca e azul. Vejo senhores como eu no Expansul, tomando café com o radinho ligado no pré-jogo. Esse povo merece mais do que um time que só joga três meses por ano.

A esperança, por enquanto, é que mantenham pelo menos a base. Que não deixem escorrer pelos dedos o que o Lúcio Flávio construiu. A saída dele é compreensível, mas a perda de tudo que ele ajudou a montar seria imperdoável. A diretoria tem a faca e o queijo na mão pra provar que aprendeu com os erros. Mas será que aprendeu?

Eu sigo torcendo. Mas mais que isso, sigo cobrando. Porque torcer é amor, mas cobrar é cuidado. E cuidar da Aparecidense é cuidar de Aparecida também.

Escrito Por

Aos 65 anos, Sebastião carrega nas mãos a memória de uma cidade inteira. Chegou em Aparecida no fim dos anos 70, quando tudo ainda era barro e promessa. Foi serralheiro por décadas até se aposentar — cada portão, cada grade, um pedaço da sua história. Entre a missa e o noticiário, não se cala: cobra, opina, representa quem construiu Aparecida com suor.

Compartilhar!

Mais Opções

Vamos falar sobre essa notícia? Mas lembre-se de ser responsável e respeitoso. Sua opinião é importante!

Ninguém comentou ainda. Clique aqui e seja o primeiro!
Notícias Emprego Eventos Crônicas