Que a justiça seja só o começo
Por Sebastião Silva
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Foi como tirar um peso do peito quando ouvi a notícia da condenação do ex-presidente pela tentativa de golpe militar. Eu sabia que a verdade ia chegar, mais cedo ou mais tarde, mas confesso que não esperava que esse dia viesse tão logo. Ver a Justiça agir com firmeza num caso tão grave me trouxe um alívio danado, porque se tem uma coisa que machuca a alma da gente é ver a democracia sendo tratada como brinquedo por quem jurou defendê-la.
Mas, mesmo com a sentença dada, me pergunto: será que isso compensa tudo o que ele fez? Porque os danos não foram só políticos. Foram vidas. Gente que podia estar viva se a vacina tivesse chegado antes. Eu perdi um primo, o Zé, lá do Jardim Maranata. Homem forte, trabalhador, não resistiu à covid. A gente sabia que a vacina existia, mas ela foi segurada. Foi ironizada. Como se proteger a vida fosse motivo de piada.
E não foi só isso. Eu lembro como se fosse ontem do tempo em que o povo ia pro açougue comprar osso. Isso mesmo, osso! Teve gente fazendo fila pra conseguir carcaça pra cozinhar. Isso num país que produz carne pro mundo inteiro. Me diga: como é que se explica isso? O combustível passou de oito reais, teve cidade onde passou de dez. O feijão e arroz virou artigo de luxo. Os programas sociais, que ajudavam muita família a respirar, foram cortados ou viraram moeda de chantagem política.
E enquanto o povo sofria, ele tentava calar investigações, proteger os dele, fingir que não via. Disse que não tinha corrupção, mas tentou desmontar os mecanismos que justamente servem pra impedir o roubo. Lembra do juiz famoso que deixou de ser juiz para ser ministro do ex-presidente mas abandonou ele ao ver que ele não deixava investigar corrupção? O que não se vê, não existe — era essa a lógica. Só que a dor da gente, essa não se esconde, não.
Eu sei que tem muita gente que acha que essa condenação é perseguição. Que é coisa de juiz comunista, como dizem por aí. Mas sinceramente, me dói ver como tanta gente ainda acredita nesse tipo de mentira. Essas fake news viraram uma praga pior que o mosquito da dengue. E o mais triste é que quem acredita nelas também é vítima. Sim, vítima. Vítima de um projeto de poder que se alimenta do medo, da desinformação e da raiva.
Não é fácil conversar com essas pessoas. Eu tento. Às vezes escuto mais do que falo. Porque sei que ninguém muda de ideia com pancada. Mas eu rezo, todo dia, pra que mais gente desperte. Que pare de seguir cego quem só usou o povo como escada. Que perceba que defender democracia não é sobre partido. É sobre vida, é sobre dignidade, é sobre a nossa cidade e o nosso futuro.
E não, antes que alguém venha dizer, não estou aqui elogiando o governo atual. Está longe de ser uma maravilha. Ainda falta muita coisa. A saúde tem suas filas, o transporte vive lotado, o salário segue curto no fim do mês. Mas uma coisa é certa: não é um governo que trabalha contra o povo. E só isso já me faz dormir um pouco mais tranquilo.
O que espero de verdade é que essa condenação sirva de exemplo. Que ajude a abrir os olhos. Que prepare o terreno pro ano que vem, quando a gente vai ter que decidir de novo o rumo do país. E aí, meu amigo, não pode ser na emoção, no meme, no vídeo cortado. Tem que ser com memória. Com responsabilidade. Com amor à verdade.
Porque já erramos feio uma vez. E o preço foi alto demais. Que dessa vez, a conta não venha nas costas do povo outra vez.

Escrito Por Sebastião Silva
Aos 65 anos, Sebastião carrega nas mãos a memória de uma cidade inteira. Chegou em Aparecida no fim dos anos 70, quando tudo ainda era barro e promessa. Foi serralheiro por décadas até se aposentar — cada portão, cada grade, um pedaço da sua história. Entre a missa e o noticiário, não se cala: cobra, opina, representa quem construiu Aparecida com suor.
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