Quando o Brasil volta a jogar junto
Por Sebastião Silva- Publicado em
Eu aprendi a ver futebol em rádio de pilha, desses que chiavam mais do que narravam. A antena vivia torta, e a gente girava o aparelho pra ver se a voz do locutor aparecia inteira. Quando a bola batia na trave, parecia que o rádio também batia. Era assim que eu entendia o jogo: no susto, no grito e na imaginação.
Essa semana, vendo o Flamengo encarar o PSG na final da Intercontinental, me deu uma sensação parecida. Não teve título, eu sei. Mas também não foi passeio. Vi o Flamengo jogar de igual pra igual, morder no meio, dividir bola como se fosse final de campeonato de bairro. Perdeu nos pênaltis, coisa que acontece até em pelada de domingo. Saí do sofá com aquela certeza antiga: quando o brasileiro resolve jogar sério, ninguém sobra por causa de camisa cara.
No Mundial do meio do ano, foi mais ou menos assim também. Eu mesmo, confesso, achei que a gente ia cair cedo. Falei isso na padaria, falei no ponto de ônibus, falei até pra mim mesmo. Mas aí veio o Flamengo passando do Chelsea, o Botafogo aprontando pra cima do PSG, o Palmeiras que não teve medo do Messi e o Fluminense, que pra muitos era o patinho feio do Brasil, quase chegou na final. Cada jogo parecia um causo novo pra contar depois.
Lembrei de uma vez, lá atrás, quando joguei num campinho de terra no Colina Azul. O outro time chegou com uniforme novo, chuteira reluzindo, parecia time de foto. A gente tinha camisa emprestada e meia furada. No primeiro lance, tomamos um drible seco. No segundo, um carrinho bem dado. No terceiro, gol nosso. Futebol é isso: quem acha que já ganhou, perde atenção; quem sabe que precisa suar, cresce.
Os times brasileiros cresceram assim. Sem pedir desculpa por não serem europeus. Com técnico falando a língua do vestiário, jogador entendendo o peso da arquibancada, mesmo quando ela está a milhares de quilômetros. Vi time brasileiro marcar alto, girar jogo, segurar pressão. Coisa que, quando dá errado na Seleção, a gente escuta que “não é o momento”, que “falta entrosamento”.
Ano que vem tem Copa do Mundo, e eu fico pensando se a Seleção não anda esquecendo do próprio sotaque. Parece que o time fica esperando quem vem de fora salvar tudo, como se a vontade tivesse que atravessar o oceano pra chegar. Enquanto isso, nos clubes, o jogador corre como quem corre por vizinho, por bairro, por história.
Não é saudosismo. É observação simples, dessas que a gente aprende vendo jogo em mesa de bar. Futebol brasileiro sempre foi mistura de coragem e improviso, mas agora mostrou que também sabe ser organizado sem perder a alma. E quando junta essas coisas, fica difícil bater.
No fim das contas, eu continuo acreditando no que aprendi naquele rádio chiando: bola não respeita currículo, respeita quem disputa cada lance.
Se a Seleção jogar com a mesma fome que os clubes jogaram, a gente não precisa de milagre nenhum pra trazer o hexa.
Escrito Por Sebastião Silva
Aos 65 anos, Sebastião carrega nas mãos a memória de uma cidade inteira. Chegou em Aparecida no fim dos anos 70, quando tudo ainda era barro e promessa. Foi serralheiro por décadas até se aposentar — cada portão, cada grade, um pedaço da sua história. Entre a missa e o noticiário, não se cala: cobra, opina, representa quem construiu Aparecida com suor.
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