Quando a escola fecha, a cidade deveria parar pra ouvir
Por Sebastião Silva
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Hoje foi dia de ficar em casa com meu neto. O pequeno não pôde ir ao CMEI porque os professores entraram em greve. Desde cedo, a televisão já falava da paralisação. Aqui no Jardim Tiradentes, o portão da escola mais próxima ficou fechado. As vozes que costumam ecoar do pátio, os gritinhos, o som das professoras chamando pros brinquedos… tudo silenciado. Não por falta de vontade, mas por falta de respeito.
Passei a manhã com o menino no quintal. Plantamos, demos comida pras galinhas e depois ele quis brincar de casinha com uns potes velhos que encontrou na área. Me fez de pai, depois de cliente, depois de cachorro. Gargalhou o tempo inteiro. E mesmo com a coluna reclamando, eu aproveitei. A verdade é que é um privilégio poder estar com ele. Nem todo mundo tem essa sorte.
Conheço muitas famílias aqui que não têm com quem deixar as crianças. Mães que saem cedo pra trabalhar em supermercado, pais que pegam ônibus antes do sol nascer pra chegar em Goiânia. Quando a escola fecha, a rotina desmonta. E isso é grave. Mas mais grave ainda é a situação que levou os professores a essa decisão. Porque ninguém faz greve por capricho. Greve é um grito, e grito só vem quando o ouvido do outro lado se recusa a escutar.
O que me dói é saber que os professores estão lutando não por aumento, luxo ou vantagem, mas apenas pra receber o que já está na lei. Piso salarial. Progressão de carreira. Titularidade. Direitos que são garantidos e que, mesmo assim, parecem tratados como favores. Não dá pra aceitar.
Fico pensando no tanto que a gente exige desses profissionais. Queremos que ensinem nossos filhos a ler, escrever, respeitar, pensar com a própria cabeça. Queremos que eduquem, acolham, separem briga, percebam febre, façam reunião, resolvam problema. Mas quando é a vez deles de pedir alguma coisa, muitos tratam como se os professores estivessem atrapalhando.
Já vivi o bastante pra saber que quando uma cidade deixa de valorizar seus professores, ela anda pra trás. A educação é o único jeito de um povo mudar de vida sem depender de favor de político. E é por isso que ela incomoda tanto: porque forma gente crítica, gente livre, gente que não aceita qualquer migalha.
Aqui de casa, escuto o silêncio vindo da escola e penso que ele deveria ser ensurdecedor. A ausência da aula, do recreio, da merenda, da correria das crianças… tudo isso devia fazer mais barulho no coração dos governantes. Porque quando os professores param, não é só a sala de aula que fecha. Fecha um pedaço da esperança da cidade também.
E enquanto isso, sigo aqui com meu neto, feliz pela companhia, mas preocupado com o que isso significa. Porque cuidar dele por um dia é leve. Mas imagino o peso de quem depende da escola pra poder sobreviver.
Torço, do fundo do coração, pra que os que têm o poder de mudar essa situação tenham vergonha na cara e façam o que precisa ser feito. Não por pressão, mas por consciência. Porque o que está em jogo não é só o salário dos professores. É o futuro dos nossos filhos. É o presente das nossas famílias.
E disso, ninguém devia abrir mão.

Escrito Por Sebastião Silva
Aos 65 anos, Sebastião carrega nas mãos a memória de uma cidade inteira. Chegou em Aparecida no fim dos anos 70, quando tudo ainda era barro e promessa. Foi serralheiro por décadas até se aposentar — cada portão, cada grade, um pedaço da sua história. Entre a missa e o noticiário, não se cala: cobra, opina, representa quem construiu Aparecida com suor.
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