Praça não é enfeite, é convite
Por Sebastião Silva
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Outro dia mesmo passei pela praça do Madre Germana e reparei nas novas barras da academia ao ar livre. Brilham sob o sol como se fossem de outro mundo. Tudo limpinho, pintado de novo, chão bem cuidado. Fiquei ali parado uns minutos, só observando. Um senhor fazia alongamento devagar, parecia que dançava com o tempo. Era desses que já entenderam que a pressa não resolve mais nada. Mais adiante, uma senhora puxava elástico com o maior empenho, suando e sorrindo. Aquilo me deu alegria.
Já ouvi chamarem de “academia de velho”, e confesso que até achei graça. Mas parei pra pensar: e qual o problema? Se for pra ajudar a gente a viver melhor, com mais disposição e menos dor nas juntas, que seja academia de velho, de moço, de quem quiser usar. O importante é estar ali, se movimentando, respirando ar livre, aproveitando o espaço que é de todos nós.
Só que a verdade é que nem sempre vejo alguém usando. Muitas vezes passo por essas academias e estão vazias, só o vento balançando os equipamentos. Talvez falte incentivo, talvez falte tempo, talvez falte divulgação mesmo. A vida anda tão corrida que muita gente nem nota o que foi feito ali na esquina. Mas quando vejo alguém parando pra usar, mesmo que seja só por dez minutos, acho bonito. Porque mostra que a cidade pode, sim, cuidar da gente.
Esses espaços nas praças são mais do que paisagem. São pedaços de tempo que a gente pode usar pra respirar. Vi outro dia um menino usando a barra pra brincar de pendurar, como se fosse um parquinho improvisado. O parquinho infantil da praça mesmo, coitado, tava com balanço torto, escorregador descascando. Mas o menino ria do mesmo jeito. Criança tem uma força que a gente esquece quando cresce: transforma qualquer canto em alegria.
E é aí que penso: a praça tem que servir pra todo mundo. Do vovô que quer caminhar ao neto que quer correr. Da moça que lê no banco à senhora que cultiva a fé no silêncio. A praça é um retrato da cidade em miniatura. E se ela estiver abandonada, é sinal de que a gente tá perdendo o fio do cuidado com a nossa própria casa.
Fico feliz com as reformas que a prefeitura tem feito, não vou negar. Ver piso novo, iluminação funcionando, lixo recolhido, tudo isso é sinal de atenção. Mas também penso que só o cimento não resolve. A praça precisa de gente. Precisa de vida. E vida não se traz só com obra, mas com presença. Com evento, com roda de conversa, com feira, com dança, com cinema ao ar livre. Com música num domingo à tarde, sabe? Aquilo que faz a gente sair de casa pra se encontrar.
Já vi praças cheias de gente quando tem evento, e depois vazias de novo. Como se fossem palco que só acende uma vez por mês. Acho que a gente merece mais. Que os bairros merecem mais. Que o povo de toda a cidade também quer um lugar bonito e ativo, que acolha as crianças, os idosos, os jovens, todo mundo.
Não adianta esperar que só o banco de concreto resolva a solidão da cidade. O que resolve é o convite. É a cultura popular tomando conta. É o mutirão do bem-estar. E isso precisa ser pensado com carinho. Porque a cidade anda tensa, anda apressada. E a praça é o único lugar onde o tempo parece andar mais devagar. Onde a gente pode sentar sem ser cliente, pode andar sem pressa, pode rir sem ser julgado.
Se eu pudesse dar um conselho, diria: invistam nas praças. E não só no cimento. Invistam na vida que pode nascer ali. Porque a praça é um lembrete de que o espaço público é de todo mundo. E todo mundo merece ser bem-vindo.
Eu mesmo tenho meu banco preferido. Fica sob uma mangueira antiga que faz sombra boa quase o dia inteiro. Às vezes, levo um pedaço de pão e café na garrafa. Fico ali só observando: quem passa, quem para, quem se reencontra. E volto pra casa com o coração um pouco mais leve.
Porque praça boa não é a mais bonita. É a mais viva.

Escrito Por Sebastião Silva
Aos 65 anos, Sebastião carrega nas mãos a memória de uma cidade inteira. Chegou em Aparecida no fim dos anos 70, quando tudo ainda era barro e promessa. Foi serralheiro por décadas até se aposentar — cada portão, cada grade, um pedaço da sua história. Entre a missa e o noticiário, não se cala: cobra, opina, representa quem construiu Aparecida com suor.
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