O barulho e o trabalho
Por Sebastião Silva
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Tem coisa que só o tempo ensina. A gente vai vivendo, observando, escutando mais do que falando, e acaba entendendo que nem tudo que faz barulho vale alguma coisa. Tem gente que grita pra ser notado, e tem gente que simplesmente arregaça as mangas e faz. Sem alarde, sem pose, sem precisar se colocar como salvador de nada. E quando a poeira baixa, é fácil ver quem construiu e quem só passou levantando areia.
Esses dias, enquanto eu varria o quintal de manhã cedo, com o rádio ligado lá na cozinha, ouvi a notícia: Goiás vai sediar a MotoGP a partir de 2026. Quase larguei a vassoura de surpresa. Não por duvidar da capacidade do nosso estado — que é forte, trabalhador e tem potencial — mas porque não era algo que se falava muito por aí. Nenhuma campanha de promessa, nenhum vídeo com efeito especial, nenhum discurso inflamado. Simplesmente aconteceu. Quem anunciou foi o governador Ronaldo Caiado, dizendo que o autódromo de Goiânia vai ser modernizado e que o estado será palco de uma das maiores competições de motociclismo do mundo por cinco anos seguidos.
Pensei comigo: olha aí uma diferença gritante entre quem fala e quem faz.
Porque não faz tanto tempo assim que o então presidente Jair Bolsonaro apareceu com toda pompa, prometendo trazer a Fórmula 1 pro Rio de Janeiro. Lembro como se fosse hoje: televisão, internet, todo canto mostrando ele assinando um termo de compromisso com aquele jeitão firme, dizendo que o autódromo de Deodoro seria construído rapidinho, que não ia ter gasto do governo e que o Rio ia brilhar no lugar de São Paulo.
Mas promessa é só promessa até que vire ação. E essa, infelizmente, ficou no papel. O projeto esbarrou em problemas ambientais, falta de investimento e uma série de burocracias. No fim das contas, São Paulo continuou com a Fórmula 1 como se nada tivesse acontecido, e o tal autódromo no Rio virou mais uma dessas histórias que o povo já aprendeu a ouvir com desconfiança.
Enquanto isso, Caiado fez o caminho oposto. Não criou expectativa além da conta, não vendeu sonho, não jogou palavras ao vento. Trabalhou quieto, como quem sabe que política se faz com ação, e conseguiu garantir um evento que pode transformar a imagem de Goiás no cenário internacional. Isso é resultado.
E se alguém ainda acha que é exagero, basta olhar o que aconteceu na segunda-feira em Goiânia. Um autódromo cheio, em plena manhã de início de semana, só pra ouvir a notícia. Gente de toda parte, animada, querendo saber o que virá. Agora compare isso com o ato recente de Bolsonaro em Copacabana, num domingo de sol, chamando multidões pra pedir anistia. Resultado? Nem 20 mil pessoas apareceram. A diferença é clara: enquanto um tenta mobilizar pelo que já passou, o outro movimenta a população com o que está por vir.
Esse contraste não é de agora. Já vinha se desenhando desde a eleição passada. Aqui em Aparecida, por exemplo, todo mundo achava que o Professor Alcides — nome forte, conhecido, com apoio direto de Bolsonaro — seria imbatível. Mas foi surpreendido por Leandro Vilela, um nome novo, pouco conhecido, que chegou com o apoio do grupo de Caiado e venceu com folga. Alcides, depois da derrota, até disse que desistiu de vez de ser prefeito de Aparecida. O que isso mostra? Que o eleitor está cada vez mais atento, menos preso a rótulos e mais interessado em quem apresenta resultado.
E é esse tipo de mudança que me chama atenção. Porque eu moro em Aparecida desde o fim dos anos 70, cheguei aqui quando ainda era tudo mato e estrada de terra. Vi cada bairro surgir, acompanhei a cidade crescer com suor, enxada, cimento e ferro. Trabalhei como serralheiro por mais de trinta anos, fazendo portão, grade, estrutura de telhado. Eu conheço esse povo. Sei que o aparecidense — assim como o goiano de modo geral — tem os pés no chão. Ele pode até dar ouvidos a quem fala bonito, mas no fim das contas ele quer ver obra pronta, hospital funcionando, rua asfaltada, escola com merenda.
Por isso que essa história da MotoGP tem mais peso do que parece. Não é só esporte, não é só turismo. É sinal de que, mesmo em meio a tanta divisão política, ainda existe espaço pra quem trabalha com seriedade. A política brasileira andou muito machucada nos últimos anos. Muita gente boa desistiu, se afastou. Mas ações como essa devolvem um pouco da esperança.
Agora, também não se trata de idolatrar ninguém. Eu não sou homem de puxar saco. Acho que todo político tem obrigação de fazer bem-feito, porque ganha pra isso. Mas quando alguém cumpre o que promete, quando entrega sem precisar prometer milagre, merece reconhecimento. E nesse caso, Caiado acertou em cheio.
E que isso sirva de alerta também pra quem tá aqui na nossa porta. O prefeito de Aparecida precisa entender que esse tipo de conquista não é só do estado — ela respinga aqui também, e pode ser boa pra cidade se for bem aproveitada. A MotoGP vai movimentar gente, gerar comércio, trazer olhares de fora. Mas pra isso, a cidade precisa estar pronta. Precisa de estrutura, de mobilidade, de limpeza, de organização. Não adianta só aplaudir de longe; é hora de começar a preparar o terreno, literalmente e politicamente, pra tirar o máximo desse evento. Porque se não fizer nada, outros municípios vizinhos é que vão colher os frutos.
A disputa entre Caiado e Bolsonaro dentro da direita brasileira só vai crescer. Isso é fato. Já está em curso. Mas se continuar nesse ritmo, com um falando de passado e outro mostrando resultado, não vai demorar muito pra que a maioria perceba quem realmente está construindo alguma coisa.
Pra quem, como eu, viu essa terra sair do barro e virar cidade grande, é fácil entender a diferença entre discurso e prática. O barulho, por si só, nunca mudou nada. Quem muda é quem acorda cedo, encara o dia, enfrenta os problemas de frente. O mesmo vale pra política. E Goiás, dessa vez, mostrou isso com clareza.

Escrito Por Sebastião Silva
Aos 65 anos, Sebastião carrega nas mãos a memória de uma cidade inteira. Chegou em Aparecida no fim dos anos 70, quando tudo ainda era barro e promessa. Foi serralheiro por décadas até se aposentar — cada portão, cada grade, um pedaço da sua história. Entre a missa e o noticiário, não se cala: cobra, opina, representa quem construiu Aparecida com suor.
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