Confiança, só quando olho no olho

sebastiao

Outro dia, quase caí num golpe. Me mandaram mensagem no celular, dizendo que era meu filho pedindo dinheiro. A foto de perfil era dele, o jeito de escrever era parecido. Mas uma coisa me incomodou: por que pedir por mensagem? Por que não ligar?

Fui direto no que aprendi com o tempo: desconfie de pressa demais. Liguei pro número de sempre do Paulo, e ele atendeu na hora, sem saber de nada. Era golpe.

De uns tempos pra cá, tá tudo assim. Dinheiro virou só número em tela, gente que nunca te viu falando que é seu parente, link que promete milagre, gente oferecendo ajuda só pra te passar a perna. E olha que eu não sou dos mais desconfiados, mas aprendi a ser cabreiro.

Sou do tempo do dinheiro de papel. De pagar conta no banco, pegar senha, conversar com a moça do caixa. Tinha lá seus defeitos, demorava, dava trabalho, mas tinha olho no olho. Hoje, a modernidade encurtou tudo — e também escancarou a porta pros espertos.

Aprendi a mexer no celular com a ajuda da minha neta. Ela me ensinou a ver notícia, mandar foto, até entrar no tal do Pix. Mas mesmo assim, quando o celular vibra e aparece um número estranho, meu coração dá uma travada. E não é medo à toa. É proteção.

Esses golpes estão por todo lado. Já ouvi de amigo que caiu em clonagem de WhatsApp, de conhecido que perdeu dinheiro achando que era oferta de emprego, e até de idoso que passou dados achando que falava com o banco. E quando a gente vai atrás de quem enganou, ninguém acha.

Sabe o que é pior? É que esses golpistas miram justamente em quem confia. Gente simples, boa, que acredita nas pessoas. Usam fotos, vozes, inventam histórias bem contadas. E quando a gente vê, já foi.

Por isso, falo pra todo mundo aqui do bairro: não tenha vergonha de pedir ajuda. Se não entendeu a mensagem, se ficou na dúvida, chama um filho, um neto, um vizinho. E se pedir dinheiro, desconfie. Nem sempre é quem parece ser.

Tenho fé que a tecnologia veio pra ajudar. Mas ajuda mesmo quando vem com responsabilidade. O que falta, às vezes, é isso: um pouco de respeito por quem ainda tá aprendendo. Porque a pressa do mundo digital não pode atropelar a sabedoria do mundo real.

Lembro que, lá atrás, o medo era de perder carteira na rua. Hoje, é de perder tudo sem nem sair de casa. Mas a lição segue sendo a mesma: não entregue sua confiança pra quem não merece. E isso, nem a internet pode mudar.

Se for pra confiar, que seja com calma. Que seja de frente, com a verdade bem clara. Porque o dinheiro vai e vem. Mas a dignidade, essa não se negocia nem por link.

Escrito Por

Aos 65 anos, Sebastião carrega nas mãos a memória de uma cidade inteira. Chegou em Aparecida no fim dos anos 70, quando tudo ainda era barro e promessa. Foi serralheiro por décadas até se aposentar — cada portão, cada grade, um pedaço da sua história. Entre a missa e o noticiário, não se cala: cobra, opina, representa quem construiu Aparecida com suor.

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