A febre que a gente trata com vacina
Por Sebastião Silva- Publicado em
Tava assistindo ao jornal quando vi que Aparecida entrou em campanha contra a febre amarela. Já começaram a vacinar nos postos, e avisaram que teve até animal encontrado morto com sinais da doença. Na hora me deu aquele friozinho na espinha. Não é medo, não. É memória.
Porque quem tem mais de sessenta, como eu, sabe muito bem o que é a febre amarela de verdade. Não é só nome feio. É doença braba. Daquelas que chegam sem pedir licença, derrubam gente forte da noite pro dia e, se bobear, levam embora.
Lembro bem da década de 80. Foi uma época em que se falava muito da febre voltando no interior de Goiás, e tinha gente que nem sabia o que era vacina direito. Tinha muito boato, muita desinformação. “É coisa de mato”, diziam. “Na cidade não pega.” Grande engano. A doença vai atrás de onde tem gente sem proteção. E, como naquela época a vacinação ainda era bagunçada, teve muito susto.
Eu mesmo conheci um rapaz, trabalhador rural, forte como um touro. Começou com febre, dor nas costas, olhos amarelados… Em dois dias, estava no hospital. Em menos de uma semana, enterrado. E não foi por falta de força, não. Foi por falta de prevenção. Não teve vacina.
De lá pra cá, a coisa melhorou. A saúde pública avançou, os postos espalharam pela cidade, e hoje vacinar é rápido. Mas parece que a memória do povo é curta. A gente esquece que doença não some. Só fica quieta esperando a brecha. Quando acham animal morto com febre amarela, como aconteceu aqui em alguns pontos da cidade, é sinal de alerta pra todos. A doença tá por perto, e ela não avisa antes de atacar.
Eu sou de um tempo em que os macacos eram vistos como inimigos, como se eles fossem os culpados pela febre. Mataram muito bicho à toa. Hoje, graças a Deus, isso mudou. A ciência explicou, e ficou claro: o macaco só adoece como a gente. Ele avisa que o perigo tá vindo. Se a gente for esperto, corre pro posto em vez de correr atrás de animal.
Agora eu fico vendo esse pessoal mais novo, que tem acesso à informação, tem celular na mão, tudo fácil… e ainda tem dúvida se deve tomar a vacina. Uns dizem que não confiam. Outros acham que é exagero. Mas digo com toda a vivência que carrego: exagero é adoecer por algo que se evita com uma picadinha no braço.
E não adianta dizer que não sai do bairro, que mora no asfalto, que o mosquito não chega. O mosquito vai onde tem sangue. Se tiver descuido, ele agradece.
Fiquei feliz em ver a prefeitura agindo rápido, organizando campanha, avisando o povo. Mas campanha sozinha não resolve. Precisa do povo ir. De pai levando filho. De neto puxando a avó. De vizinho avisando vizinho. Porque a vacina não é só pra você. É pra proteger todo mundo ao seu redor.
A febre amarela é traiçoeira. Não faz barulho. Mas quando chega, já vem querendo levar. Então o recado é claro: não espere ver caso no seu quarteirão. A vacina é agora, enquanto é tempo.
E se alguém ainda tiver dúvida, lembre do que eu disse: febre a gente trata com vacina. Consciência, com lembrança. E, às vezes, a lembrança vem carregada de luto.
Que não seja esse o nosso caso.
Escrito Por Sebastião Silva
Aos 65 anos, Sebastião carrega nas mãos a memória de uma cidade inteira. Chegou em Aparecida no fim dos anos 70, quando tudo ainda era barro e promessa. Foi serralheiro por décadas até se aposentar — cada portão, cada grade, um pedaço da sua história. Entre a missa e o noticiário, não se cala: cobra, opina, representa quem construiu Aparecida com suor.
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